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domingo, 3 de fevereiro de 2013

Prodígios do Brasil #1

Olá, meus queridos prodígios! Como podem ver essa é uma nova coluna do blog Jovens Prodígios e vocês (isso mesmo, vocês!) podem enviar suas sugestões que serão postadas aqui periodicamente. O que pode ser? Uma foto da sua estante de livros, um comentário sobre seu autor ou livro favorito... Um vídeo contando algo literário e, por que não, fantástico? E, é claro, como sempre estou incentivando a escrita de blogueiros/leitores tão talentosos que aparecem por aqui, você podem e devem mandar seus belos textos. Pode ser uma poesia, um conto, crônica... o prólogo do seu romance. Não importa! Envie que será um prazer lê-lo e divulgá-lo aqui *-*
Clica na aba CONTATO e use uma das opções para mandar suas sugestões, ok?

Bom, para estrear essa coluna, temos uma prodígio para lá de especial... Por quê? Porque é talentosa, super linda e blogueira: a Helaina! Ela sempre está por aqui, comentando e deixando sua marca. É um enorme prazer estrear essa coluna com essa minha amiga blogueira. Bom, vamos parar de blá blá blá e ver o que ela providenciou, certo?

Não direi nada, apenas: NÃO LEIAM À NOITE!
Ótima leitura  ;)

--

Aqui, para sempre






Velórios são sempre eventos muito tristes, e Bárbara não discordava disso. Havia ouvido certa vez que eles ajudavam as pessoas a lidar com a dor de sua perda, então ela não se opunha a comparecer e respeitava a decisão das pessoas de passar uma noite inteira ao lado do caixão. No entanto, isso a incomodava. A atmosfera, como já era de se esperar, era ruim.
A pessoa que havia morrido era um senhor amigo da família de Bárbara. Todos estavam com muita pena da viúva, pois ela morava sozinha. Seus filhos queriam que ela fosse morar com um deles e pareciam estar conseguindo convencê-la. O único detalhe que faltava para que ela concordasse era o fato de que a velha senhora não queria deixar sua casa sozinha. Foi essa a oportunidade que Bárbara precisava. Ela estava para começar o curso na universidade e ainda não tinha onde morar. Agora esse problema estava resolvido.
Depois de passar um tempo no velório, Bárbara e sua família foram embora. Apesar de estar feliz com a moradia garantida ela se sentiu um pouco triste ao ver uma menina de vestido vermelho do lado de fora da sala onde estava o caixão. Provavelmente da família. Ela não sabia quem era, mas pela tristeza em seu rosto ela parecia ser bem próxima a eles.
***
Uma semana depois, Bárbara foi ajudar Mirtes, a viúva de Antônio, a retirar seus pertences pessoais de sua casa que agora oficialmente estava sendo alugada, bem abaixo do preço de mercado, para Bárbara e uma amiga.
- Você está lembrando o nosso acordo, não está? - perguntou Mirtes.
- Sim. Tem uma amiga que também vai começar a estudar esse semestre e vai morar comigo.
Bárbara não havia entendido o porquê dessa exigência, mas como o preço estabelecido para o aluguel era muito barato, ela não viu porque não aceitar.
- Então não se esqueça. Nunca fique sozinha nessa casa - Mirtes pediu - nem você, nem sua amiga.
- Tudo bem. Pode deixar - Bárbara achou aquilo estranho e quase chegou a ficar com medo. Mas por fim se convenceu que devia ser só algo da cabeça de Mirtes com medo da solidão.
***
Mônica, amiga com quem Bárbara iria dividir o apartamento, concordou que aquilo deveria ser algo sem importância, mas percebeu que de alguma forma a recomendação de Mirtes havia afetado Bárbara, pois ela resolvera se empenhar em seguir a instrução.
- Você vai chegar cedo hoje, Mônica?
- Chego às 7 da noite, como sempre Bárbara.
- Okay. Eu vou sair às 5 horas da faculdade, mas faço uma horinha na rua antes de voltar pra casa.
- Bárbara. Porque você não vai fazer uma visitinha pra dona Mirtes. Aproveita e pergunta a ela porque ela fez essa recomendação estranha sobre a casa. Não deve ser nada e você está se preocupando à toa.
- Eu não estou preocupada com isso...
Mônica olhou para Bárbara com olhar de deboche perante a afirmação.
- Okay. Ela falou com tanta propriedade. Fiquei meio incomodada com a ideia do que poderia acontecer caso uma de nós fique sozinha aqui - Bárbara admitiu.
- Então vá conversar com ela - Mônica insistiu - ela está morando aqui perto, não está?
- Está sim. Vou fazer isso então.
As duas garotas terminaram de se arrumar e seguiram para a faculdade.
***
Bárbara desceu do ônibus alguns pontos antes de casa e seguiu a pé até a casa onde Mirtes estava morando com o filho mais velho, sua nora e dois netos. Ainda perto do ponto, ela teve a impressão de ter visto a mesma menina de vestido vermelho que havia visto no cemitério algumas semanas antes.
- Ela deve ter vindo visitar a dona Mirtes - pensou.
Ela seguiu por dois quarteirões e logo chegou à pequena casinha com um jardim muito florido à frente. Mirtes ficou feliz ao vê-la.
A senhora preparou um café para as duas que elas degustaram enquanto conversavam na cozinha.
- Dona Mirtes...
- Apenas Mirtes, Bárbara.
- Desculpe-me - ela sorriu - Mirtes, porque você me recomendou que de forma alguma nem eu nem minha amiga ficássemos sozinhas na casa?
- Venha comigo - a senhora chamou - vou te mostrar uma coisa.
As duas foram para o quarto de Mirtes, onde ela pegou uma caixinha de madeira com um lindo trabalho artesanal floral por toda a superfície.
- Eu e meu marido convivíamos com isso há algum tempo. Ele achou que seria melhor que ficássemos na casa do que vendê-la a alguém que não levasse a estória a sério. Uma vez eu corri grande perigo lá dentro, e se não fosse ele arrombar a porta, hoje eu não estaria aqui conversando com você. Agora com a morte dele, eu tive que sair de lá. Não conseguiria alguém para morar comigo e ficar em casa o tempo todo.
Mirtes abriu a caixinha. Havia muitas coisas miúdas e vários papéis dentro dela. Ela tirou uma fotografia antiga colorida à tinta como uma pintura em tela.
- Você já viu essa menina? - Mirtes entregou a fotografia a Bárbara.
A garota na foto além de ser familiar, vestia o mesmo vestido vermelho que Bárbara já havia visto - é sua neta?
Mirtes pegou a foto de volta.
- Minha irmã gêmea - ela respondeu.
- Mas... - Bárbara não estava entendendo como poderia estar vendo a irmã gêmea de Mirtes.
- O fato de você já tê-la visto mostra que eu não perdi a sanidade.
- Eu não pensei isso...
- Sei que não minha querida. Mas muita gente já pensou. Antônio era o único que acreditava em mim. Ele também a viu uma vez.
- Porque nós a vemos?
- Quando éramos crianças, em 1932, Marta ficou muito doente. Os médicos não conseguiam curá-la e ela estava enfraquecendo dia a dia. Ela ficava o dia todo no quarto e não podia sair para brincar. Eu ficava com ela no quarto, mas com o tempo ela ficou fraca demais até para nossas brincadeiras. Uma manhã, ela apareceu na sala onde tomávamos café usando seu vestido vermelho preferido, brincando com sua boneca de pano. Eu e mamãe ficamos muito animadas. Deixamos Marta com a empregada e fomos correndo até a casa do médico para que ele pudesse diagnosticar a cura e pudéssemos voltar à nossa vida normal.
Bárbara ouvia a estória com atenção.
- O médico prometeu ir lá em casa assim que possível. Quando voltávamos, decidimos passar na loja onde nosso pai trabalhava para dar a notícia e logo voltamos os três para a casa muito felizes. O que encontramos ao chegarmos, no entanto, nos tirou toda a alegria. Rose, que havia ficado tomando conta de Marta estava caída no chão da sala. Morta. Mamãe pensou se tratar de um assalto e correu para procurar minha irmã. Ela estava de volta no quarto, desmaiada sobre a cama. Ela ficou inconsciente por uns dias e acabou morrendo.
- Nossa, Mirtes. Que terrível. Nem imagino como isso tudo deve ter sido para você.
- Ainda me lembro de Rose caída perto da porta da sala. Foi meu pai quem me tirou de lá.
- A polícia descobriu o que aconteceu?
- Nem chegou perto de descobrir. E essa não foi a única morte que aconteceu na casa. Uma amiga da minha mãe que havia ficado viúva e não tinha filhos foi morar com a gente. Durante um verão, fui com meus pais visitar a fazenda dos meus avós, e essa amiga ficou na casa. Quando chegamos, ela estava morta. No mesmo lugar onde Rose estava.
Bárbara engoliu seco - vocês mudaram da casa?
- Nunca conseguimos. Aquela época estórias assim assustavam muito. Ninguém queria comprar a casa e mesmo nós tínhamos medo de ficar lá sozinhos. Mas não tínhamos para onde ir. Esse medo acabou nos ajudando a sobreviver. Nunca nenhum de nós ficou sozinho na casa e quando me casei, fui morar lá com meu marido e filhos. Sempre tendo o cuidado de não deixar ninguém sozinho na casa. Mesmo assim, um dia enquanto Antônio cuidava do jardim e eu entrei em casa para preparar uma limonada, uma rajada de vento fechou a porta. E eu a vi. Com o mesmo vestido vermelho e a boneca de pano. Ela foi se aproximando de mim e eu senti meu coração batendo cada vez mais forte. Minhas veias começaram a aparecer mais grossas sob a pele. Eu gritei e antes que Marta se aproximasse mais, Antônio arrombou a porta e entrou em casa. Nesse dia ele a viu também. Mas ela não pode mais fazer nada. Ela desapareceu no ar.
- Eu a vi no cemitério. E aqui perto, antes de vir para cá.
- Acho que nós a vemos porque ela nunca saiu da casa. E agora você também está ligada a aquela casa. Você e sua amiga. Alguma coisa trouxe a saúde da minha irmã de volta por um curto período e levou de volta a um alto preço.
Agora Bárbara estava definitivamente assustada.
- Fique tranquila, meu bem. Contanto que você não fique sozinha em casa, não há o que temer - Mirtes tentou tranquilizá-la.
Um pequeno relógio sobre a penteadeira de Mirtes começou a badalar.
- Me esqueci da hora! - Bárbara se levantou - Mônica está para chegar em casa!
- Corra! Não pode deixá-la ficar sozinha lá! - agora Mirtes também estava um pouco assustada. Iria se sentir culpada se algo acontecesse às meninas. Arrependeu-se por não ter contado toda a estória antes. Mas geralmente ninguém acredita.
Bárbara correu. O mais rápido que podia. Ignorou alguns sinais de trânsito, ouviu alguns insultos de motoristas que precisaram frear para não atropelá-la e chegou quase sem fôlego a casa.
A porta da frente estava entreaberta. Seu coração disparou.
- Mônica! - ela chamou. Barbara atravessou o portão e se aproximou da entrada - Mônica! - ela gritou.
Bárbara empurrou de leve a porta.
- Que gritaria é essa? - perguntou Mônica, vindo lá de dentro.
- Falei pra não ficar sozinha na casa - repreendeu Bárbara.
- O que você tem? Parece que viu fantasma.
- Vamos conversar. Vou te contar o que a Mirtes me contou, mas em outro lugar - ela pediu.
- Tudo bem. Acalme-se. Deixa só colocar o lixo para fora de uma vez. Falta pegar o lixo do banheiro.
- Tudo bem - Bárbara sentou-se no primeiro degrau de frente para a porta.
Uma rajada de vento frio bagunçou seus cabelos.
- Não Mônica! Espera! - Bárbara se levantou e correu em direção à porta.
Ela ouviu a risada de uma criança e a porta da frente bateu antes que ela conseguisse chegar até ela.
- Mônica! - ela gritava enquanto girava em vão a maçaneta - Mônica! - Bárbara começou a esmurrar e a chutar a porta.
Ela ouviu o grito da amiga e ouviu a criança rindo novamente.
- Não! - Bárbara começou a chorar - fica longe dela! - ela continuou esmurrando a porta e foi escorregando até cair sentada aos pés da porta - Mônica... - ela sussurrou.
Os gritos dela chamaram a atenção de pessoas que passavam pela rua e alguns homens tentaram ajudar. Eles afastaram Bárbara da porta e a arrombaram. Lá dentro, ela viu a menina de vestido vermelho. Ela segurava uma boneca de pano. Caída ao seu lado. Mônica não se mexia.
Os homens passaram por Bárbara e entraram na casa. Eles tentavam reanimar Mônica, mas nada surtia efeito. Eles ignoravam a criança por completo.
A menina realmente não parecia ter a intenção de abandonar a casa.
E Bárbara também não tinha a intenção de voltar a morar ali.

--

Sobre a autora
Nome: Helaina Carvalho
Cidade Natal: Juiz de Fora - MG
Nascimento: 29 de Julho
Signo: Leão
Hogwarts House: Gryffindor
Twitter: @helaina_one
Blogs:  Universo Invisível
            Mente Hipercriativa


Para ler mais contos incríveis como este visitem: Universo Invisível  prodígios!

E ai, o que acharam?  Essa prodígio tem ou não tem talento?! (pergunta retórica hehe).

Abraços,
L. L. Alves

23 comentários:

  1. Ainda bem que li isso as duas da tarde... hahaha
    Muito bom, Helaina!

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    1. hahahahaha Não é mesmo! Textos assim me deixam com a pulga atrás da orelha... O_O

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  2. Ai gente!! Assim meu coração não aguenta!! ^^
    Meu domingo todo sem graça e um calor danado e me deparo com essa linda homenagem!!

    É graças à vocês que escrevo. Sempre vivi nesse mundo fantástico que existe em minha cabeça, mas só tem sentido passar essas estórias para o papel se houver alguém querendo viajar comigo! Obrigada por lerem o que eu escrevo! E se agrado, fico mais feliz ainda!! :D

    Obrigada pelo incentivo Luene!!
    Me convencer que eu escrevo bem talvez você consiga, mas me convencer que eu sou bonita, com esse nariz enorme... acho difícil!! Hahahahahahaha..
    Você é um anjo!

    Beijussss;

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    1. *-----*
      Mas você escreve super bem, Helaina! Todos precisam saber o//

      É exatamente assim que me sinto. E você terá mais e mais fãs, só acredite cada vez mais no seu talento, porque você tem de sobra ;)

      Naaaaah. Você é linda *-*
      E não sou sua mãe que diz essas coisas para agradar u-u hahahaha

      Beijos e se quiser pode enviar maus sugestões viu! :)

      Beijos

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  3. Oie, adorei! Hahahaha
    UUUhhh Arrepiante, adorei a coluna Lu, beijo meninas

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    1. Sim, muito arrepiante, Irinia! Obrigada :D
      Mande sua sugestão também, flor. Beijos

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  4. Adorei!!!! Tinha que ler no escuro né? Muito mais emocionante!Helaina ótimo texto, adoro esse gênero! Parabéns!! Quero mais!!! hahahahaha

    Ótima idéia Lu, prodígios mostrem seus talentos o/

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    1. hahaha Aaaah claro. Você consegue ler essas coisas no escuro né? Eu prefiro não arriscar O_O
      A Helaina tem muuuuuito talento! Quando der vou postar mais textos dela aqui :D

      Né! Mostrem-se, o mundo precisa conhecê-los o/

      Beijos, Dani :3

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  5. 0-0 quedroga aqui são seis e pouco da manhã e eu ia no banheiro huhuashushu agora vou ficar segurando até alguem na casa acordar

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  6. Obrigada pelo apoio de todos vocês!
    Talvez um dia eu escreva mais uma estória além das que já estão no Universo Invisível.
    Falta ânimo pra escrever... mas eu posso vir a repensar melhor sobre isso! ^^

    Beijusss;

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    1. Escreva sim, Helaina *-----*
      Não pode faltar ânimo não hein! u-u
      Vou ficar esperando. Beijos

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  7. Amei a história *-*
    Parabéns Helaina pela história de arrepiar (ainda bem que li agora a tarde XD) e parabéns Lu pela nova coluna ^^
    Beijinhos
    Isabelle - http://attraverso-le-pagine.blogspot.com.br/

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    1. Né? Quando eu li fiquei meio... paranoica. hahaha
      Manda sua sugestão, Isabelle! Participe da coluna também *-*
      Beijos

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  8. Posso mandar um sonho ? Eu escrevi ele .-.
    Obs. ainda não li o texto desse post porque já passa da meia-noite e vou obedecer sua dica, e vou ler amanhã mesmo euahuha
    Beijos

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    1. Claro, Camila!!!! Manda sim *-*
      Aaah sem problemas... Leia quando estiver beeeem claro mesmo hahaha

      Beijos

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  9. Ual, que história! Gostei bastante, que bom que li durante a manhã, hehe.
    Beijos,
    alanahomrich.blogspot.com.br

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  10. Hum gostei da ideia de abrir espaço para os leitores antes eu não gostava muito de livro de terror até que estou gostando de alguns agora pelo menos dos trechos e títulos hehe

    bjos

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    1. Aah eu confesso que eu também não era muito fã, mas quando é bem escrito vale muito a pena.

      Mande sua sugestão também, Taty :)
      Vou estar esperando.

      Beijos

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  11. Gente, que tudo.
    Olha os prodígios mostrando o seu talento.
    Fiquei com ciumes, também quero texto meu aqui u_u hauhauahuahauha
    Beijooos!

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    Respostas
    1. Não é mesmo, Kezia??
      Ah, mande seus textos pra mim que postarei com o maior prazer na nova coluna *-*
      Beijos

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